terça-feira, 27 de julho de 2010

Curiosidade na VEJA


O Olimpo é POP

A arte e a literatura deram uma longa sobrevida aos mitos gregos. Escritores, poetas, pintores e escultores seguiram usando como tema o Olimpo e seu elenco de deuses brigões - mesmo quando ninguém mais acreditava na existência deles. E seguem ainda. Ex-professor do ensino fundamental de São Francisco, o americano Rick Riordan, de 45 anos, deu uma guinada pop nessa tradição. Na série Percy Jackson e os Olimpianos, as divindades da Grécia antiga circulam pelos Estados Unidos de hoje. Inseridos em uma saga jovem nos moldes de Harry Potter, Zeus e seus colegas fazem o papel de super-heróis (ou, no caso de Ares, deus da guerra, supervilões). "É fácil para um jovem se interessar por esses deuses. Eles são poderosos e imortais, mas ao mesmo tempo têm defeitos humanos. Sentem fome e ciúme", disse Riordan a VEJA. A série Percy Jackson, com cinco volumes, já vendeu 9 milhões de livros no mundo todo. No Brasil, foram 135.000 vendas. O sucesso permitiu que Riordan abandonasse as salas de aula para se dedicar apenas a escrever. Em certo sentido, ele continua educando: seus livros são uma introdução acessível e empolgante ao repertório cultural da Grécia antiga.


Shaienne Aguiar, de 16 anos, estudante do 2º ano do ensino médio e presidente de um fã-clube de Percy Jackson, encontrou na série um incentivo para mergulhar nos clássicos. "Os livros de Riordan me deram gás para ler a Odisseia, de Homero", diz a jovem. Riordan orgulha-se de receber cartas de bibliotecários escolares contando que livros sobre mitologia que andavam empoeirados nas prateleiras passaram a ser disputados depois que os alunos se enfronharam nas aventuras de Percy Jackson - um garoto americano que descobre ser filho de Poseidon, o deus dos mares. O autor criou a história para um filho, Haley, que ouviu falar dos mitos gregos na escola e pediu ao pai que narrasse uma aventura com deuses. A despeito dos poderes fantásticos que herdou do pai aquático, Percy, herói e narrador dos livros, sofre de dislexia e déficit de atenção - problemas que afligem Haley. "Foi o meu modo de homenagear todas as crianças que conheci com essas condições", diz Riordan.
O primeiro livro da série, O Ladrão de Raios - sexto lugar na lista de ficção desta semana em VEJA -, já foi adaptado para o cinema. O filme estreia no dia 12 e foi dirigido por Chris Columbus, que deu o pontapé inicial nas adaptações de Harry Potter. As duas séries, aliás, guardam outras e mais profundas similaridades. Antes de descobrir sua natureza divina, Percy Jackson é um garoto-problema, expulso de várias escolas. Só vai encontrar seu lugar quando frequenta um acampamento para meios-sangues (é como são chamados, nos livros, os filhos de deuses com mortais), onde faz amizade com Annabeth, filha da deusa Atena, e Grover, filho de um sátiro. De lá, parte para uma busca aventurosa por um certo raio de Zeus que teria sido escondido em local secreto há muito tempo - e que poderia levar a humanidade a uma guerra de proporções catastróficas. É o modelo consagrado de Harry Potter: um garoto com poderes que vai encontrar seus iguais em uma instituição especial e de lá sai para enfrentar as forças do mal, com a ajuda indispensável de uma dupla de amigos fiéis.
Riordan admite alegremente a sua dívida com J.K. Rowling. "Ela estabeleceu o padrão para a nova literatura infantojuvenil", diz. "Mas Percy e Harry são crianças muito diferentes, que vivem em mundos diferentes." A mitologia de Harry Potter é mais bagunçada, misturando criaturas de origens diversas - centauros gregos e trolls escandinavos, para ficar em dois exemplos. O mundo de Percy Jackson é povoado por respeitáveis deuses e monstros clássicos. Mas é também o mundo cotidiano da adolescência - escola, brigas com os pais, relacionamentos complicados. Essa combinação do prosaico com o fantástico tem se revelado uma grande receita para best-sellers juvenis.

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